Bebê reborn: saiba onde comprar o boneco realista que conquistou as redes

Nascida na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, a técnica reborn surge como uma forma de restauração de bonecas antigas — daí o termo “reborn” (renascido, em português). Antes feitas de vinil, os artistas da época acrescentavam características como cabelos implantados fio a fio para torná-las mais parecidas com um bebê real.

Com sua popularização, a febre dos bebês reborn se espalhou para países como o Brasil e as técnicas se aprimoraram até chegar aos modelos que atualmente conhecemos. Hoje, os bonecos são feitos em vinil ou silicone sólido e contam com detalhes como veias, manchas e sombras, se aproximando ainda mais da realidade. 

Algumas marcas produzem bonecos realistas de forma industrializada, oferecendo modelos mais íveis em comparação aos artesanais. Ainda que apresentem funções como membros articulados e simulação de riso ou choro, os bonecos pecam na precisão de detalhes.

Por outro lado, é possível encontrar bonecos com pintura artesanal e maior semelhança com bebês reais com bom custo-benefício. Embora não apresentem todos os acabamentos de peças exclusivas, conseguem atender a um público que busca realismo sem comprometer o orçamento.

No mercado colecionável dos bebês reborn, parte das peças são feitas por artistas independentes, que atuam em casa e vendem sob encomenda ou por meio de parcerias com influenciadoras. É um trabalho minucioso, que pode levar até 40 dias para ser concluído, com técnicas como pintura em camadas, microveias e implantação fio a fio de cabelo. 

“São muitas idas ao forno, várias camadas de tinta, veias, microveias, cabelo implantado fio a fio. Os artistas estudam e se especializam para chegar o mais próximo da realidade”, afirma Nane. “Para a gente, boneca reborn industrial não existe. É bebê reborn feito por um artista com técnica reborn.”

As vendas são feitas em parte pelas redes sociais ou grupos especializados, com preços que variam de acordo com o realismo e nível de personalização, ou seja, você pode enviar uma foto de referência do que é imaginado com aquele bebê.

Todo esse cuidado também reflete no preço, enquanto bonecos realistas industrializados podem ser encontrados por valores mais baixos, alguns modelos artesanais chegam a ultraar os R$ 5 mil.

Com olhos vívidos, pele que imita a textura real e até mesmo o peso de um recém-nascido, os bebês reborn tornaram-se companhia, consolo e até mesmo a extensão de um vínculo – por vezes rompido ou não realizado. 

Para o psiquiatra e professor da Universidade de São Paulo (USP), Rodolfo Damiano, o interesse por esses bonecos pode nascer de motivações subjetivas diversas. Ele explica que a busca por cuidado e presença simbólica aparece, sobretudo, em um cenário de hiperconexão digital e empobrecimento dos laços sociais. “Objetos como os reborn representam o desejo de cuidar e ser cuidado, mesmo que a relação ocorra com um boneco inanimado”, explica. 

Em contextos de luto perinatal, Damiano explica que o reborn pode funcionar como um mediador – não como substituto do bebê real, e sim uma ferramenta que ajuda a processar a ausência. Em lares com pessoas diagnosticadas com Alzheimer ou outros quadros de demência, os bonecos podem ter uso terapêutico, desde que inseridos de forma cuidadosa e acompanhada.

A presença do objeto ajuda a diminuir os quadros de agitação e ansiedade, trazendo sensação de conforto. É como se o gesto de vestir ou conversar com o boneco reativasse memórias de cuidado. Mas o psiquiatra faz um alerta: o efeito é paliativo, não curativo. “Há o risco de reforçar mecanismos de evitamento emocional, promovendo distanciamento progressivo das relações interpessoais”, afirma.

O apego excessivo, segundo ele, deve ser observado de perto. “Quando o bebê reborn a a ocupar o lugar central das relações da pessoa — limitando a interação social, profissional ou familiar — é preciso atenção clínica”, diz o especialista.